Uma jovem mulher é alvo de um tratamento psiquiátrico radical em Fixação, o drama de suspense psicológico que teve estreia latino-americana no XIX Fantaspoa. Após uma infância conturbada, na qual teria sido molestada moral e sexualmente pelo irmão, Dora (Maddie Hasson) acorda em um hospital psiquiátrico sob os cuidados dos dois estranhos médicos (Genesis Rodriguez e Stephen McHattie). Em uma camisa de força, Dora diz não lembrar de ter cometido o assassinato de que está sendo acusada.
Ao longo do filme, as seis etapas de um radical tratamento psiquiátrico são apresentadas, cada uma delas contribuindo na piora psíquica de Dora. De forma geral, as etapas incluem medicação e radicais representações de cenas vividas pela garota no passado, encenações de processos traumáticos com amigos e familiares, bem como a dramatização de um passeio por seu inconsciente e superego. Tudo isso filmado em um hospital abandonado, onde a equipe de produção ergueu mais de dez sets.
Como parte do filme ocorre mesmo nos próprios corredores do prédio, que conectam tanto os sets quanto a própria história, aumenta-se o sentido labiríntico da trama e, especialmente, o senso de horror e incerteza que o filme instaura. Afinal, em determinado momento fica realmente difícil saber se o que ocorre com a protagonista é realidade diegética, terapia ficcional, devaneio da garota, loucura ou confusão mental decorrente de medicação. O espectador desatento pode mesmo ser perder.
A bem da verdade, algumas sequencias não parecem muito bem executadas pelo filme, vulgarizando o inconsciente como o âmbito do esquecimento e da loucura, e atrelando o superego, zona da autocrítica e do julgamento moral, a uma espécie de comédia/show grotesco envolvendo personagens do filme de forma meio pedante. Tudo isso poderia ter sido mais bem trabalhado pelo roteiro e pela encenação, talvez de forma menos literal e falsamente criativa.
Filmado em plena pandemia de covid-19, o aspecto visual do filme é mérito da equipe, bem como sua montagem, que trabalha material captado mediante um intrincado e confuso roteiro. Destaca-se, sobretudo, a crítica a tratamentos psiquiátricos suspeitos, que parecem inverter seu objetivo de cura ou estabilização de desvios. No caso de Fixação, o tratamento parece incutir culpa e promover uma degradação psíquica que quase leva a protagonista à esquizofrenia.
Mas, não seria ela mesma esquizofrênica desde sempre? E Dora cometeu mesmo o crime de que está sendo acusada? O crime realmente aconteceu? E qual o real papel do irmão Griffin (Atticus Mitchell) nisso tudo? O filme parece deixar questões realmente em aberto tamanha a dúvida geral que paira sobre sua história.
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