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  • danilofantinel

ROLLING STONES: IMORTAIS DO ROCK ETERNIZADOS PELO CINEMA

Atualizado: 27 de dez. de 2020

Os Rolling Stones voltaram ao Brasil para shows no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre em 2016. Imortais do rock, os ingleses foram eternizados também no cinema. Vários filmes contam a história da banda, sublinhando a raiz negra do seu som, com destaque para blues, electric blues e o rock dos anos 1950. A partir dessa matriz coesa, a banda daria início ao british blues da década posterior, incorporando gradativamente novos estilos, como rhythm and blues, soul, psicodelia, folk e reggae – quase sempre com apoio de instrumentos de percussão de diferentes origens. Os Stones ajudaram a consolidar o hard rock e influenciaram artistas em todo o mundo, chamando a atenção de cineastas interessados em loucas histórias de sexo, drogas e rock’n’roll.


Neste especial, resgatamos os mais importantes longas sobre os músicos, incluindo documentários, cinebiografias e concert movies que revelam momentos decisivos nestes 54 anos de intensas atividades.



The T.A.M.I Show (1964): Registro do festival californiano que refletiu o som sessentista produzido nos Estados Unidos e na Inglaterra na primeira metade da década de 1960, o evento ganhou o nome T.A.M.I. devido à sigla que no showbizz significa “Teen Age Music International”. O encontro de estrelas lançado como concert movie reuniu Chuck Berry (abrindo os trabalhos com “Johnny B. Goode”, “Maybellene” e “Sweet Little Sixteen”), Billy J Kramer and The Dakotas (britânicos em um fiasco lamentável), The Supremes (com Diana Ross à frente), Smokey Robinson and The Miracles, Marvin Gaye (elegante), Beach Boys (divertidos com “I Get Around”, “Surfer Girl” e “Surfin’ U.S.A.”, acusada por Chuck Berry de ser plágio de “Sweet Little Sixteen”) e James Brown and The Famous Flames (excelente em sua primeira aparição em cadeia nacional de TV nos Estados Unidos, sendo visceral e raro em “Prisoner of Love”, e cantando e dançando muito em “Out Of Sight”). Os Rolling Stones fecharam o evento tendo a ingrata tarefa de tocar após o energético Brown. Problema? Nenhum! Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Bill Wyman e Charlie Watts entraram rapidinho no palco, plugaram instrumentos e deram início ao set com uma versão nervosa de “Around and Around”. Já “Off the Hook” e “Time is on my side” desaceleram o som, denunciando certa instabilidade de Jagger no vocal, que retoma a potência com a veloz “It’s all over now”. Com ela, a direção do festival se permite inovações na captação de imagens, movimentando câmeras circularmente atrás da banda, oferecendo assim uma visão do fundo do palco em direção à platéia. “I’m alright” e “Let’s get together” encerram The T.A.M.I Show em alta voltagem, sendo que na última música o palco é invadido por dançarinos e pelas bandas anteriores. Apoteose quase surreal tamanha a quantidade de gênios no mesmo tablado.







Charlie Is My Darling (1966): No doc sobre uma excursão de dois dias pela Irlanda, os Stones fazem uma série de revelações, incluindo a percepção inicial de que o sucesso da banda não duraria muito mais do que um ano e meio. Watts se diz vítima de um complexo de inferioridade, mas acredita que no fundo é mesmo “great after all”. Brian Jones admite as incertezas sobre o futuro dos Stones, revela que nunca quis ser pop star e, embora seja reconhecido como um grande músico, declara sua eterna insatisfação artística. Jagger afirma que no palco está sempre atuando, desempenhando um papel específico para entreter o público em função da música, e que aquele que todos veem empunhando o microfone não é exatamente ele. Richards e Wyman falam pouco. O filme de Peter Whitehead entrevista o público dos shows, registra a histeria das meninas e flagra invasões de palco por fãs malucos. Também documenta a banda em aviões, trens, carros, coletivas de imprensa, andando pelas ruas, em ensaios e conversas com o empresário Andrew Oldham, nos camarins e tocando vários de seus hits. Nos shows, câmeras livres alternam planos fechados, supercloses, zoons, focos em transição, nitidez e granulação, traduzindo visualmente a energia dos Stones e de seu público.



Sympathy for the Devil (1968): Filmado em cores, o longa de Jean-Luc Godard acompanha as gravações da famosa canção da banda, lançada no disco “Beggars Banquet” (1968). No estúdio, o cineasta francês propõe interessantes movimentações de câmera que valorizam a profundidade de campo no ambiente fechado do estúdio e também enquadramentos que colocam em cena tanto músicos quanto técnicos de som em trabalho quase incessante. Entre as gravações da música, há longos trechos ensaísticos em que Godard propõe teorizações acerca de política tradicional, ativismo revolucionário, capitalismo, gênero, sexualidade e racismo. Em outras cenas, ao som de um narrador verborrágico, uma mulher picha Londres com expressões como “freudemocracy”, “cinemarxism” e “sovietcong”, dando o tom provocador de Godard. As sequências com a banda são muito interessantes, porém o filme como um todo é difícil de ser superado mesmo por fãs dos Stones.




The Rolling Stones Rock and Roll Circus (1996): Em dezembro de 1968, os Stones realizaram um especial para a BBC de Londres ao lado de artistas convidados em um picadeiro de circo. Porém, com um show considerado abaixo das expectativas pela banda, o material nunca foi ao ar. As gravações foram vertidas para película 28 anos depois, eternizando este evento emblemático que marca a última apresentação ao vivo do guitarrista Brian Jones com o grupo. Fundador dos Stones ao lado de Jagger e Richards, Jones viria a morrer meses depois, em julho de 1969, aos 27 anos, em circunstâncias ainda hoje nebulosas. O concert movie dirigido por Michael Lindsay-Hogg documenta as apresentações de The Who, Jethro Tull (com participação de Tony Iommi, do Black Sabbath), Taj Mahal, Marianne Faithful e do supergrupo The Dirty Mac, composto por John Lennon, Yoko Ono, Eric Clapton, Mitch Mitchell (baterista de Jimi Hendrix) e Keith Richards especialmente para a ocasião. Por tudo isso, vale conferir.



Gimme Shelter (1969): Um dos mais importantes documentários rock de todos os tempos, o longa de Albert e David Maysles registra o concerto gratuito e catastrófico Altamont Speedway Free Festival, realizado para 300 mil pessoas em dezembro de 1969, na Califórnia, como fechamento de uma longa turnê dos Stones pelos Estados Unidos. Desde o início, o evento ocorrido após Woodstock (em agosto do mesmo ano) foi marcado pelo descontrole. Contratados para fazerem a segurança do festival, integrantes do Hell’s Angels passaram a intimidar os Stones e artistas convidados. Além disso, agrediram a plateia e mataram o fã negro Meredith Hunter em frente às câmeras durante a apresentação de “Under My Thumb”. Desorientados, os músicos interromperam o show em diversos momentos para acalmar os ânimos, incluindo na hora do assassinato. No total, houve quatro mortes e quatro nascimentos naquele dia, além de inúmeros roubos e depredações – fatos que fizeram a revista Rolling Stone declarar aquele como “o dia mais desastroso do rock”. De certa forma, Altamont ajudou a dar fim ao movimento hippie. Na verdade, os filmes sobre Woodstock e Altamont são diametralmente opostos, com o primeiro registrando paz e amor, e o segundo revelando caos e desordem. Depois da experiência traumática, os Stones passaram a dar mais atenção à organização e à segurança do público em seus shows.



Cocksucker Blues (1972): O anárquico e proibido doc assinado por Robert Frank e Daniel Seymour segue o estilo Cinéma Vérité (ou Direct Cinema), pelo qual há um intenso registro de realidades a partir da presença quase provocadora dos realizadores. Com seu dispositivo específico, o Cinéma Vérité busca revelar “a verdade” acerca dos temas abordados tornando os cineastas parte efetiva das filmagens, mas não do resultado visual do filme – ou seja, há participação total dos realizadores atrás das câmeras, na caça de seus alvos e na captação de imagens, mas o que o público vê na tela seria campo reservado exclusivamente à “verdade” oferecida pelos retratados. Assim, Cocksucker Blues não apresenta narrador que comente o contexto dos Stones na época do longa, deixando que gravações de rádio ou TV, depoimentos do staff da banda e cenas filmadas com os músicos expliquem por si só uma das épocas mais loucas do grupo. O doc registra diversos momentos dos bastidores da turnê norte-americana realizada em 1972, após as mortes trágicas de fãs em Altamont, em 1969 (uma delas flagrada em Gimme Shelter), e depois do lançamento do clássico álbum “Exile on Main St.”. No filme há ensaios musicais, entrevistas protocolares, performances selvagens, curtição em quartos de hotéis e a tradicional trinca sexo, drogas e rock’n’roll – porém de uma forma nunca vista antes. Com a intimidade dos roqueiros escancarada e seu estilo de vida hedonista documentado em película, os Stones tentaram proibir a exibição do documentário. Por decisão judicial, o filme só pode ser apresentado em cinemas com a presença do diretor Robert Frank. Para coroar este audiovisual bombástico, aparecem em cena o produtor Marshall Chess, o artista visual Andy Warhol, o escritor Truman Capote, Bianca Jagger, ex-mulher de Mick, e os músicos Tina Turner e Stevie Wonder (este em uma ousada jam com os britânicos).






Stones in Exile (2010): A psicodelia dos anos 1960 havia passado, o ideal hippie estava praticamente esquecido, o flower power se refletia apenas em roupas e figurinos extravagantes, porém as drogas e o rock’n’roll seguiam em alta entre os Rolling Stones. Neste cenário que extinguia costumes de um lado e mantinha práticas de outro, a banda deixa o Reino Unido em 1971 em direção à Riviera Francesa tanto para escapar de problemas fiscais com o Estado britânico quanto para se distanciar de uma longa disputa judicial com o empresário Allen Klein – que, segundo o biógrafo Robert Greenfield, deixou os músicos no vermelho ao tomar US$ 17 milhões da banda. Instalados em uma mansão à beira do Mediterrâneo, os Stones compuseram seu novo disco, “Exile on Main St.”, em um estúdio montado no porão da casa. De fato, os roqueiros estavam mesmo exilados na residência localizada perto de Nice, onde submergiram em hedonismo e loucura para emergir do caos com aquele que se tornaria um de seus principais álbuns. Quase 40 anos depois, o cineasta Stephen Kijak resgata esta passagem pelo inferno stoniano em um documentário muito mais formal se comparado aos longas feitos anteriormente sobre o grupo. A partir de material de arquivo (incluindo cenas de Cocksucker Blues), entrevistas recentes com os músicos e depoimentos da equipe técnica, o filme aponta as dificuldades e os prazeres de viver o rock abaixo do mesmo teto com mulheres (Banca Jagger, Anita Pallenberg), filhos, amigos, traficantes, fãs e aproveitadores. Ultrapassando os limites considerados adequados pelas autoridades locais, os Stones se viram obrigados a deixar a França e partir para Los Angeles, onde terminaram o disco duplo. Com pós-produção caprichada e participação de Pallenberg, Jack White, Martin Scorsese e Dominique Tarlé (fotógrafo amigo da banda), Stones in Exile é um dos melhores audiovisuais sobre o grupo.



Crossfire Hurricane (2012): Nos 50 anos dos Stones, os músicos dão uma entrevista em áudio, sem captação de imagens, para o diretor Brett Morgen, o mesmo de Cobain: Montage of Heck (2014). Para compor o filme, Brett se apropria de material exibido em Charlie Is My Darling, Sympathy for the Devil, Gimme Shelter, Cocksucker Blues e Stones in Exile. Exceto pelas recordações e imagens sobre o velório do guitarrista Brian Jones, morto em 1969, e pelas percepções da banda sobre o comportamento bacante de fãs, sempre estimulados por uma vontade mítica e incontrolável de tocar os músicos para absorver sua essência, Crossfire Hurricane é o menos revelador entre todos os longas sobre o grupo britânico. Apresenta um balanço da carreira dos Stones, mas também se mostra um resumo dos documentários lançados anteriormente. Por outro lado, é uma boa alternativa para quem ainda não os viu.




Stoned (2005): Neste único filme ficcional sobre os Stones, o cineasta Stephen Woolley repassa momentos importantes da vida Brian Jones, interpretado por Leo Gregory, e aposta na tese de que o músico foi assassinado por Frank Thorogood (Paddy Considine), responsável por uma reforma na casa do guitarrista. A cinebiografia dramatizada retoma o início da banda e o processo de autodestruição de Jones em função de condutas paranoicas amplificadas pelo abuso de álcool e drogas. Fundador do grupo ao lado de Mick Jagger (Luke de Woolfson) e Keith Richards (Ben Whishaw), Jones passou a ter sérios problemas devido ao vício, sendo expulso dos Stones em junho de 1969, pouco antes de seu falecimento, ocorrido em julho, e do lançamento de “Let It Bleed”, em novembro. O longa aponta que, em 1993, Thorogood confessou sua participação na morte do músico por afogamento em uma piscina, porém a real causa e a suposta responsabilidade pelo fato é ainda hoje nebulosa. Segundo o filme, e conforme a agência Reuters, o veredicto do caso indica “morte acidental”. Stoned tem boa direção de arte, garantindo ótima reconstituição de época. Mas se arrisca ao propor transições temporais para compor uma narrativa não linear. Com direção frouxa e atuações muito fracas, o resultado é pouco eficiente. O filme tem soluções dramáticas e narrativas deficientes, sendo incapaz de abarcar (ou de abordar) de forma adequada esse que é possivelmente um dos maiores mistérios envolvendo os Stones. Por sinal, a banda não aprovou a produção nem liberou músicas para a trilha sonora.



Shine a Light (2008): Mistura de documentário e concert movie, Shine a Light já começa bem ao apresentar os embates entre o cineasta Martin Scorsese, que busca realizar o filme rock perfeito, e os Rolling Stones, preocupados em apresentar o show ideal ao seu público. Realizado no Beacon Theater, em Nova York, em 2006, ano da turnê A Bigger Bang, o longa de duas horas captura um espetáculo inesquecível e retoma material de arquivo sobre os primeiros momentos da banda. Buddy Guy, Jack White e Christina Aguilera dividem o palco com os Stones.



Além de rockumentaries, cinebios e concert movies sobre os Stones, integrantes da banda também atuaram em diversas trilhas sonoras e fizeram parte do elenco de filmes ficcionais.



Cena de Performance


Como atores, ganham destaque Mick Jagger com os filmes Performance (1970), de Nicolas Roeg, remontado diversas vezes para atenuar o enredo violento e erótico sobre um gangster agressivo e um astro do rock (Jagger) bissexual e entediado com a vida, Running Out of Luck (1987), de Julien Temple, sobre um rock star (Jagger) em viagem ao Brasil (com Dennis Hopper, Jerry Hall, o cantor Ritchie e os atores brasileiros Norma Bengell, Grande Otelo, Tony Tornado e Paulo César Pereio no elenco), e o ótimo Bent (1997), de Sean Mathias, sobre o tratamento dado a homossexuais por nazistas na Segunda Guerra (aqui, Jagger interpreta um travesti chamado Greta).


Se Mick Jagger tentou muito ser reconhecido por sua interpretação dramática, Keith Richards se tornou melhor ator, mostrando isso sem muito esforço como o pai de Jack Sparrow em Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007) e Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (2011). Como se sabe, Johnny Depp teria se inspirado em Richards para compor o próprio personagem.


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