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danilofantinel

A ORIGEM

Atualizado: 27 de dez. de 2020

O controle da mente representa um poder extraordinário. Da lavagem cerebral à manipulação de lembranças, especula-se muito sobre a ética acerca de atividades e pesquisas nesse âmbito. Em 2010, inspirado por labirintos mentais e segredos da memória, Christopher Nolan analisou o implante de ideias tendo como cenário uma disputa industrial e uma história de amor trágica. A Origem, um inventivo thriller de suspense, dividiu opiniões pelo mundo. Agradou a quem queria diversão cinematográfica encefálica, e tirou do sério quem esperava uma pretensiosa dissertação audiovisual sobre as engrenagens do subconsciente.

Na trama, Don Cobb (Leonardo DiCaprio), um especialista em roubar informações durante o estado de sonho de suas vítimas, é contratado pelo megaempresário Saito (Ken Watanabe) para fazer justamente o contrário, ou seja, originar uma ideia na mente de um homem para que ele pense que é sua, transformando assim a realidade de ambos. O método inceptivo se dá a partir da construção de sonhos dentro de sonhos, criando condições ideais para que ideias possam se enraizar profundamente no subconsciente e, depois, desenvolver-se conscientemente. Cobb precisa fazer com que Robert Fischer (Cillian Murphy), herdeiro de um poderoso industrial, abra mão do império do pai. O trabalho é difícil, mas Cobb não resiste ao pagamento oferecido pelo contratante: a volta aos Estados Unidos com ficha limpa depois de anos vivendo no exterior como fugitivo devido à acusação de homicídio da mulher, Mal (Marion Cotillard). A morte de Mal não foi sua culpa, mas a suspeita do crime obrigou sua fuga, deixando para trás seus dois filhos, para quem quer desesperadamente voltar. Em seu exílio autoimposto, Cobb transita pelos próprios sonhos assombrado pela figura da mulher, uma projeção mental do protagonista sobre a qual perdeu controle, e que se voltou contra ele.


Como um vírus, Mal domina os espaços oníricos de Cobb em uma espécie de vingança contra seu estado de suspensão. Invariavelmente, sabota os planos do ex-marido, colocando em risco seus objetivos e o sucesso deste último trabalho, que poderá levá-lo de volta às crianças. O cineasta britânico propõe uma superestrutura narrativa vertical, na qual a equipe de peritos de Cobb arquiteta sonhos artificiais parcialmente controlados, em níveis diferentes de profundidade, mas inter-relacionados, suscetíveis a abalos mútuos e interações variadas. Para dimensionar estes parâmetros, cria soluções visualmente exuberantes. Apesar da história percorrer um fio dramático verticalizado, ela também se ramifica horizontalmente em cada nível de sonhar, criando subtramas conectadas ao enredo principal de forma capilar. A história é intrincada, mas um punhado de neurônios dá conta do recado.


Organicamente coeso, equilibrando ação, suspense, ficção científica, espionagem, amor e traição, Inception (no título original) fundamenta-se não apenas em um roteiro robusto de entretenimento, mas também em uma fotografia sublime e em uma direção de arte elegante. Já em sua primeira parte, o longa exibe todos seus predicados, como um perfeito prelúdio da obra em si, apresentando a ideia essencial do longa com conflito e clímax introdutórios de tirar o fôlego.


Além disso, o prólogo também faz o gancho para a parte final do filme. Em um desfecho memorável, Nolan mostra Cobb voltando para casa, finalmente reencontrando seus filhos. Mas o diretor deixa em aberto um discreto convite a uma espécie de singularidade metalinguística dentro universo do filme, como uma curvatura do espaço-tempo da obra. Indica, sem afirmar categoricamente, que Cobb pode nunca ter acordado de seu último sonho.

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